Rainha Rania visita Campo de Refugiados no Bangladesh / Queen Rania visits Refugees Camp in Bangladesh

Vamos para um choque de realidade nesta Terça-Feira? Mas antes disso quero partilhar convosco uma frase de Meghan Markle - sim, já a cito, porque não? - :
Ready for a reality clash this Tuesday? But before that, I want to share with you a quote from Meghan Markle - yes, I already quote her, why not? -:

"Perguntam-me constantemente como consigo manter-me em dois mundos tão distintos - um da indústria do entretimento, baseado na riqueza e indulgência, e o outro no trabalho humanitário. Para mim, a questão importante não é saber "como é que eu faço isto?", mas sim "como é que não posso eu fazê-lo?" Embora a minha vida oscile entre campos de refugiados e passadeiras vermelhas, eu escolho ambos, porque estes dois mundos podem, de facto, coexistir. E na minha opinião, eles devem coexistir."
"I’m consistently asked how I keep a foot in two contrasting worlds—one in the entertainment industry, predicated on wealth and indulgence, and the other in humanitarian work. To me, it’s less of a question of how can you do this, and more a question of how can you not? While my life shifts from refugee camps to red carpets, I choose them both because these worlds can, in fact, coexist. And for me, they must".
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A Rainha Rania da Jordânia visitou ontem o Campo de Refugiados de Kutupalong, no Bangladesh. Este campo abriga muçulmanos Rohingya que atravessaram a fronteira, vindos de Myanmar para escapar à perseguição étnica e religiosa de que são alvo por parte do exército deste país. O êxodo desta minoria muçulmana já atingiu contornos humanitários graves, e Rania, na qualidade de membro do Comité de Resgate Internacional (IRC) e defensora de várias agências das Nações Unidas quis ver de perto as condições do campo e conversar com os refugiados
Queen Rania of Jordan visited the Kutupalong Refugee Camp in Bangladesh yesterday. This camp is home to Rohingya Muslims who crossed the border from Myanmar to escape the ethnic and religious persecution made from this country's army. Exodus from this Muslim minority has already reached a serious humanitarian outlook, and Rania, as a member of the International Rescue Committee (IRC) and advocate for various United Nations agencies, wanted to see the camp conditions closely and talk to refugees.

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A consorte Jordana condenou a onda de violência e violação de vários direitos humanos, apelando à Comunidade Internacional para que medidas mais severas fossem tomadas, tanto a nível de apoio como de sanções ao governo de Myanmar. Desde Agosto de 2017, estima-se que cerca de 600.000 muçulmanos Rohingya tenham atravessado a fronteira de Myanmar rumo ao Bangladesh. Fala-se que uma verdadeira "limpeza étnica" está a acontecer na antiga Birmânia, e que os organismos humanitários não podem ficar indiferentes a tais atrocidades. Segundo Rania:
The Jordan consort condemned the wave of violence and violation of various human rights, calling on the International Community to take tougher measures, both in terms of support as sanctions against the Myanmar government. Since August 2017, an estimated 600,000 Rohingya Muslims have crossed the Myanmar border into Bangladesh. It is said that a genuine "ethnic cleansing" is taking place in ancient Burma, and that humanitarian agencies can not remain indifferent to such atrocities. According to Rania:

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"Sem respeito ou cuidado pelos princípios do direito humanitário e internacional, a discriminação e a perseguição da minoria Rohingya continuaram sem cessar, perante o olhar de todo o Mundo. É preciso perguntar, porque é que o grito deste grupo minoritário muçulmano é ignorado? Porque razão esta perseguição sistemática foi permitida durante tanto tempo? 
“With no respect or regard for the principles of humanitarian and international law, the discrimination against and the persecution of the Rohingya minority has continued unabated, in full view of the world. One has to ask, why is the plight of this Muslim minority group being ignored? Why has this systematic persecution been allowed to play out for so long?” 

Nas palavras de vários refugiados, a brutalidade e violência da qual fugiram é devastadora. Tratam-se de pessoas que fugiram da sua terra,  porque estavam a ser perseguidas, assassinadas, violadas, vendo as suas casas e vilas a serem incendiadas. Ao fugirem, rumo ao um futuro incerto, tiveram ainda que enfrentar várias dificuldades, sempre com o risco de serem apanhados pelo exército, para chegarem a um campo no país vizinho, que está acima da sua capacidade de acolhimento, e onde, pura e simplesmente, mesmo com toda a ajuda humanitária, a privação de alimentos, medicamentos e acompanhamento é uma realidade. Mas é talvez uma realidade melhor do que a morte e o terror do qual fugiram.
In the words of several refugees, the brutality and violence from which they fled is devastating. These are people who fled their homeland, because they were being persecuted, murdered, raped, their houses and villages being burned. As they fled towards an uncertain future, they had to face several difficulties, always at the risk of being caught by the army, to reach a camp in the neighboring country, which is beyond their capacity of reception, and where, quite simply, even with all humanitarian aid, deprivation of food, medicine and monitoring is a reality. But it is perhaps a better reality than the death and terror from which they fled.

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"Antes de chegar aqui, preparei-me para testemunhar algumas condições desesperadas, mas as histórias que ouvi hoje foram dolorosas e angustiantes. Ouvi falar de estupro sistemático de jovens meninas, presas nas escolas e estupradas por soldados. Ouvi falar de bebés sendo pontapeados como uma bola de futebol e pisados. Eu ouvi membros de uma família a contarem-me como os soldados assassinaram os seus pais, mesmo em frente deles. Isto é algo inaceitável. É imperdoável que esta crise se desenrole no cenário mundial para uma audiência amplamente indiferente. O mundo parece estar calado perante aquilo que muitos reconhecem agora como uma limpeza étnica dos muçulmanos Rohingya." 
"Before coming here, I had braced myself to witness some desperate conditions, but the stories I heard today were heartbreaking and harrowing. I’ve heard of systematic rape of young girls, who were trapped in schools and raped by soldiers. I’ve heard of babies being kicked around like footballs and stomped on. I’ve heard family members telling me how they’ve seen their own parents killed, right before their eyes . This is something that is unacceptable. It is unforgivable that this crisis is unfolding on the world stage to a largely indifferent audience. The world seems to be silent to what many are acknowledging now as an ethnic cleansing of the Rohingya Muslims."
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Durante esta visita e os números dramáticos que esta crise humanitária está a atingir, a Rainha foi questionada se o mundo é incapaz de ver os muçulmanos como vítimas. Rania respondeu:
During this visit and the dramatic numbers that this humanitarian crisis is reaching, the Queen was asked if the world is unable to see Muslims as victims. Rania replied:

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"Isso leva-nos a questionar se os lugares fossem invertidos, se estes actos de violência fossem cometidos por muçulmanos, se a resposta do mundo seria tão silenciosa quanto a resposta que estamos a ver aqui hoje." 
“It leads one to wonder if the tables were turned, and these acts of violence were committed by Muslims, if the world’s response would have been as muted as the response that we are seeing here today.”

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Rania ainda informou em comunicado de imprensa que 95% dos refugiados muçulmanos Rohingya não têm acesso a água potável e mais de três quartos não têm comida suficiente. 60 % dos refugiados são crianças, e tal percentagem é assim tão alta, porque basicamente todos os indivíduos do sexo masculino com mais de 12 estão a ser assassinados. E, segundo dados da UNICEF, 14.000 destas crianças estão em risco de morrerem devido à subnutrição.
Rania further reported in a press release that 95% of Rohingya Muslim refugees do not have access to safe water and more than three quarters do not have enough food. 60% of refugees are children, and that percentage is so high, because basically all males over 12 are being killed. And according to UNICEF data, 14,000 of these children are at risk of dying from malnutrition.

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A consorte jordana agradeceu ainda ao governo e povo do Bangladesh pela sua "enorme compaixão, bondade e generosidade" perante o acolhimento destes refugiados. E também expressou a sua gratitude às organizações humanitárias que estão a prestar auxilio no terreno, tais como a UNHCR, UNICEF, IOM e IRC.
The Jordan Consort thanked the government and people of Bangladesh for their “enormous compassion, kindness, and generosity.” She also expressed her gratitude to humanitarian organizations providing lifesaving support to Rohingya refugees, including the UNHCR, UNICEF, IOM, and IRC.

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A visita da Rainha Rania a Bangladesh coincide com uma conferência de alto nível que se realiza em Genebra na segunda-feira, com o objectivo de mobilizar recursos internacionais para o Plano de Resposta à Crise de Refugiados Rohingya. O plano, que prevê US $ 434 milhões para ajudar 1,2 milhão de pessoas até Fevereiro de 2018, actualmente está financiado apenas a 26%.
Queen Rania’s visit to Bangladesh coincides with a high level pledging conference taking place in Geneva on Monday, aiming to mobilize international resources for the Rohingya Refugee Crisis Response Plan. The plan, which calls for USD 434 million to help 1.2 million people through February 2018, is currently only 26 percent funded.



Tal como Rania, penso que esta apatia da comunidade global está relacionado com esterótipo e sentimento anti-muçulmanos que, regra geral, se alastra um pouco por todo o mundo. Basta ouvir um noticiário e observar que se um homem branco matar a tiro 50 pessoas num espaço público, e não gritar palavras de ordem religiosa, é descartada a hipótese de "ataque terrorista". Se um extremista islâmico, que não representa de todo a essência de uma religião, mata 10 pessoas é definitivamente um ataque terrorista. Independentemente dos jogos de palavras e dos seus significados, um terrorista, por definição, espalha o terror. Independentemente dos seus motivos, religião ou nacionalidade. Essa é a minha maneira simplista, e arrisco a dizer, justa de encarar as coisas.
Like Rania, I think that this apathy of the global community is related to anti-Muslim stereotypes and sentiment which, in general, spread a little throughout the world. Just listen to a newscast and note that if a white man shoots 50 people in a public space, and does not shout religious slogans, the hypothesis of "terrorist attack" is ruled out. If an Islamic extremist, who does not represent at all the essence of a religion, kills 10 people is definitely a terrorist attack. Regardless of words games and their meanings, a terrorist, by definition, spreads terror. Regardless of their motives, religion or nationality. This is my simplistic way, and I venture to say, fair to face things.

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Não tenho a presunção de saber tudo sobre esta questão, e sei que todos nós temos, no nosso íntimo, a nossa dose de preconceitos em relação a vários assuntos, mas sei do fundo do meu coração, que onde não existe respeito pelas vidas humanas e pela dignidade das pessoas, existe terror, existem terroristas, e existem vítimas que merecem que as suas histórias sejam ouvidas.
 I do not have the presumption to know everything about this issue, and I know that we all have, within us, our prejudices in relation to various subjects, but I know from the bottom of my heart that where there is no respect for human lives and for the dignity of the people, there is terror, there are terrorists, and there are victims who deserve their stories to be heard.


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